11/09/2009

A «Ciência» das Sondagens

A pouco mais de duas semanas das Eleições Legislativas de 2009, eis que começam a surgir as primeiras sondagens. Eu até já estava a estranhar terem demorado tanto tempo, desde que terminou o "infame" mês de Agosto.


Nas sondagens para as Europeias 2009, a «Ciência» deste tipo sondagens foi colocada em causa. Falharam redondamente.

Tudo nos leva a crer que estas sondagens são efectuadas com recurso a meios científicos, até apresentam uma «Ficha Técnica», como se pode observar nos links supra indicados.

Eu, que até "gramei" com umas quantas cadeiras de Probabilidade e de Estatística na universidade, há muito que aprendi que a maior parte dos erros nas resoluções dos problemas (académicos ou não) não está na aplicação da técnica (ou fórmulas), mas sim na interpretação do problema que nos é colocado.

Recordo um noticiário que há muito vi na TV.
Um estudo (estatística/sondagem/etc.) foi publicado, e os números apresentados indicavam que os portugueses com problemas de visão tinham aumentado substancialmente nos últimos 100 anos. Não me recordo dos números, mas seria algo como a duplicação do número de pessoas que necessitavam de usar óculos.
Para a apresentação da notícia, foi convidado um oftalmologista para comentar os números que o jornalista apresenta. Interrogado pelo jornalista sobre as causas subjacentes a este aumento, o oftalmologista prontamente enumera os "culpados" do costume: muito tempo à frente dos computadores, ver TV muito perto do ecrã, muitos jogos de vídeo, etc.

Agora pergunto eu:
  • Alguém se lembrou de comparar o que era a população nacional em 1900, e o que era em 2000 (ou por aí) quando se fez o dito estudo?
  • Alguém se lembrou que em 1900 poucos eram aqueles que sabiam ler, que não tinham TV, que não conduziam, e que por isso nem sabiam que necessitavam de óculos de correcção?
  • Alguém se lembrou que em 1900 poucos eram aqueles que, sabendo necessitar de óculos, tinham posses para os ter?
  • Não podem os números reflectir uma melhoria no acesso à correcção oftalmológica, em lugar de evidenciarem uma degradação da visão na população portuguesa?

Números são números. As interpretações poderão ser diversas. Cabe ao técnico apresentar os números. Não é da sua competência fazer quaisquer interpretações e, muito menos, fazer projecções.

As «sondagens» eleitorais a que estamos habituados sofrem deste «pecado». Basta olhar para as Fichas Técnicas dos links supra indicados, e olhar para a seguinte Ficha Técnica:

Marktest (Julho'09)

Nesta Ficha Técnica pode observar-se o «pecado» da projecção. Basta comparar a coluna dos «Votos Brutos» com a coluna dos «Votos Ponderados». É, normalmente, esta última coluna dos «Votos Ponderados» que nos é dada conhecer como os «resultados» das «sondagens». Nada poderia ser mais enganador, pois os «técnicos» pretendem que os votos dos indecisos sejam distribuídos proporcionalmente pelos diversos partidos. Nada poderia estar mais errado. O resultado (erro) ficou bem patente nas Europeias 2009.

Existem vários métodos para evitar este erro. Indico dois:
  • Sem dúvida que o mais simples é não cometer o «pecado». Ou seja, não tentar distribuir o voto dos indecisos. Não fazer projecções. Bastaria isto.
  • Outro, é tentar perceber onde estão as indecisões, para melhor distribuir os votos dos indecisos. Mas isto é demasiado falível. Não é tão falível quanto a distribuição ponderada mas, ainda assim, é um tiro no escuro.
O ideal é apresentar os resultados em bruto. Deixar que cada um faça as suas interpretações, e as suas projecções.

Na coluna aqui à direita, existem duas sondagens. Gostaria que dessem o vosso contributo votando e/ou divulgando estas sondagens em bruto, sem a «manipulação» das projecções.

Obrigado.

Nota: É óbvio que os "resultados" destas duas sondagens na coluna aqui ao lado não serão muito representativos da população em geral. Quando muito, representarão a tendência de voto da faixa da população com acesso à Internet. Além disso, desconheço se esta funcionalidade de sondagens do Google poderá, ou não, ser manipulada (vários votos de uma mesma pessoa, por exemplo).

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