04/06/2016

O Elefante na Sala de Aula

Está um elefante na sala de aula, e ninguém parece reparar. Ou melhor, não dá jeito. É preferível ignorar e esperar que mais ninguém repare. Como se um elefante fosse um animal sobejamente conhecido por passar despercebido.

Na guerra às escolas privadas, mais um golpe foi desferido. Desta feita o ataque foi perpetrado por via dos Contratos de Associação.
Para os mais distraídos, houve um golpe anterior a esse. A eliminação dos exames nacionais.

Antes de continuar, convém deixar bem claro do que se está aqui a falar. Um Contrato de Associação permite que uma instituição privada preste um serviço público. Ou seja, em lugar de os alunos serem colocados pelo Estado numa escola pública, são colocados, também pelo Estado, numa escola privada que presta o serviço público que o Estado não está em condições de prestar de forma adequada.
Contratos de associação. O que são e porque dão tanta polémica?

Comecemos então pelo início.

Fizeram asneira atrás de asneira no ensino em Portugal. Não é novidade.
No entanto, as políticas que mais gravosamente contribuíram para o descalabro da qualidade do ensino em Portugal ocorreram durante os governos de Sócrates. A política de facilitar o sucesso escolar, embora produza resultados brilhantes em termos estatísticos, em termos de aquisição de conhecimentos e competências só promove o desleixo.
O correcto deveria ter sido aumentar o nível de exigência, e promover políticas de educação que permitissem aos alunos cumprir facilmente com critérios de maior rigor e exigência. Mas isso é política séria. E para políticas sérias seriam necessários políticos sérios.

Assim, é natural que os alunos de hoje tenham menos conhecimentos e menos competências que os alunos de outrora com médias de avaliação equivalentes. Actualmente, por exemplo, os jovens escrevem pior... mesmo com a ajuda de correctores ortográficos que não existiam no tempo dos seus progenitores.

Abre-se aqui um parêntesis para relembrar mais uma política de facilitar: Acordo Ortográfico.
Escreve-se como se fala... Enfim. Sem comentários. Só mesmo para idiotas. Completos idiotas.

A redução do nível de exigência produziu um efeito negativo adicional. A formação privada, com critérios de exigência mais elevados, e com práticas educativas adequadas ao nível de exigência, consegue produzir melhores resultados que a escola pública.
Isto significa que, quando comparados por via de critérios idênticos, os alunos das escolas privadas saem normalmente melhor classificados que os alunos das escolas públicas.

Os políticos de fachada, que destruíram o sistema educativo, ficaram com um problema em mãos.
Como evitar que os eleitores percebam que a escola pública vai de mal a pior?

É simples: basta evitar que os alunos sejam avaliados por critérios idênticos.

E assim, nasceu o ataque aos exames nacionais.
Tudo o que possa ser usado como meio de comparação cabal entre ensino público e privado tem de desaparecer.

Agora é o ataque por via dos Contratos de Associação.

E o elefante está na sala.

Curiosamente, o ponto mais importante — o elefante — é omitido por todos.
O assunto que efectivamente é relevante — aliás, o único que deveria estar em cima da mesa — é simplesmente ignorado.

Fala-se do que é irrelevante. Mas não se fala do que é relevante.

Irrelevante...

Custo. Discute-se a diferença do custo. Se o custo de formar um aluno é superior numa escola pública, ou numa escola privada via Contrato de Associação. Há quem afirme — com contas feitas — que o custo de formar um aluno numa escola pública é superior ao de o formar numa escola privada. Ou seja, que sai mais barato aos contribuintes colocar os alunos em escolas privadas por via dos Contratos de Associação.
Mas, como este é um dos pontos irrelevantes que anda a ser discutido, vamos aqui assumir que sai mais caro aos contribuintes formar alunos em escolas privadas por via dos contratos de associação. Ou seja, não importa que seja mais caro, porque a parte relevante mantém-se pertinente.

Relevante...

Qualidade. O que é relevante, e que ninguém se atreve a discutir, é que a escola privada é melhor que a pública. Nem há qualquer dúvida. Poderíamos olhar para uns quantos estudos sobre o assunto, mas não é necessário. Tanto de um lado como do outro, parece óbvio que todos reconhecem que a formação privada é melhor que a pública. Vejamos.
De um lado, estão a lutar para manter os filhos nas escolas privadas, sinal claro de que acreditam que a escola privada cumpre melhor que a escola pública.
Do outro lado, acusam os outros de quererem ter os filhos com educação privilegiada às custas dos contribuintes, o que é uma admissão velada de que a escola privada cumpre melhor que a pública.

Resumindo os factos:

  • Relevante:
    A escola privada forma melhor que a escola pública.
  • Irrelevante:
    Os custos com os Contratos de Associação podem ser superiores (ou não).


O elefante...

Chegámos assim ao elefante sobre o qual ninguém fala.

Ora, em termos de criação de um futuro melhor, o objectivo de um Governo, de uma Política, de um Estado, até de uma Ideologia, não deveria ser a excelência da educação?

Não se deveria almejar uma melhor qualidade da formação e, consequentemente, formar jovens com mais e melhores conhecimentos, maior e melhor competência, e assim mais aptos para contribuir no progresso do país?

Porque raio, então, é que estão mais preocupados com ideologias bacocas, com diferenças de custos tão irrisórias que ninguém sabe para que lado pendem, com a manutenção do corporativismo sindical, e outras tantas ideias próprias de acéfalos, quando deveriam era estar exclusivamente preocupados em garantir a melhoria contínua da excelência educativa?

Portanto, prejudica-se ainda mais os pobres.
Os que podem pagar por formação privada, ficam melhor preparados.
Os que não podem... já estão habituados. Não é verdade?

Ricos com melhores oportunidades.
Pobres... como sempre.

Ou seja, admitindo que efectivamente as contas do Tribunal de Contas estão correctas (que entraram em linha de conta com todos os custos), por uns meros 107€ por aluno (ver link colocado acima), retira-se aos alunos de menores posses a possibilidade de receber uma formação mais adequada.
Parabéns!

Bela porcaria que têm andado a fazer com a educação.
Bela porcaria que continuam a fazer.
Bela porcaria que vão continuar a fazer.

Trabalhem, seus políticos acéfalos de treta!

Esforcem-se para melhorar a escola pública!
Mostrem que efectivamente o estão a fazer: realizem exames nacionais!

Não tenham vergonha de serem avaliados politicamente.
Acabem com a política das estatísticas.
Implementem política de exigência e de excelência.

Trabalhem, suas sanguessugas do Estado!
No que vocês e os resultados da vossa incompetência custam aos contribuintes, é que não encontram maneira de poupar.
Cambada de folgados.

Ide trabalhar!

Actualização a 4/6/2016:
Os exames nacionais acabaram, mas os privados querem continuar a fazê-los
Se dúvidas havia sobre a razão pela qual o ensino privado é melhor que o público, o artigo acima deixa uma dica. No privado procura-se a excelência, no público promove-se a ignorância. Quanto mais ignorantes forem os futuros eleitores, mais hipóteses têm os políticos de treta de vencer as eleições.

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