29/09/2008

Magalhães: perfil da fraude

Depois do programa "Quadratura do Círculo",
no dia 26/09/2008 o Governo apressou-se a emitir um comunicado:

«(...) Em declarações à agência Lusa, fonte oficial do Ministério tutelado por Mário Lino disse que o "Governo não mantém qualquer relação contratual com a JP Sá Couto" (...) A mesma fonte explicou que não houve concurso público porque a distribuição dos computadores é financiada pelos operadores móveis (...)»

Isto é FALSO!

No programa "Quadratura do Círculo", Lobo Xavier levantou a ponta do véu que permite chegar à verdade dos factos.

Na realidade, em 2003 as operadoras ficaram efectivamente obrigadas a contribuir para os projectos necessários ao desenvolvimento da sociedade da informação e como tal definidos pelo Governo.

Mas esta obrigação extinguiu-se em 2007 mediante protocolo celebrado em 5 de Junho desse ano.

Documentos do ICP (ANACOM):

Nas notícias:

Assim, criou-se um FUNDO:
«Fundo para a Sociedade da Informação (FSI)»

Este FSI depende do MOPTC. Os dirigentes são nomeados por Despacho.
O FSI recebeu em 2007 quase 25 milhões de Euros (24 939 894,85) das 3 operadoras para que fosse extinta a obrigação acordada em 2003 pela atribuição das licenças para frequências UMTS.

Portanto, as operadoras não estão a comprar os computadores para o programa e.Escola. Muito menos fizeram qualquer contrato para o Magalhães, ao contrário do que quer fazer crer o Governo.

Até é possível que os contratos estejam a ser pagos com os 25M de Euros do FSI, mas isso não invalida a realização de um Concurso Público.
ATÉ PORQUE O FUNDO PODE ESTAR/VIR A GERIR DINHEIROS PÚBLICOS!!!

«(...) A entidade gestora tem por missão praticar todos os actos e operações necessários ou convenientes à boa administração do Fundo para a Sociedade de Informação (FSI), de acordo com as prioridades definidas pelo Governo, bem como preparar o necessário enquadramento jurídico e financeiro à transformação do FSI num fundo SUSCEPTÍVEL DE SER FINANCIADO TAMBÉM POR CAPITAIS PÚBLICOS. (...)»

Senão, qual será a diferença entre:

1. O Governo diz: Quem ganhar o Concurso Público para as licenças de UMTS terá de comprar computadores a uma empresa a designar pelo Governo (sem Concurso Público).

e:

2. O Governo diz: Quem ganhar o Concurso Público para as licenças de UMTS terá de colocar X milhões de Euros num fundo gerido pelo Governo. O Governo aplica a verba na compra de computadores a uma empresa que escolherá sem Concurso Público.

Mais valia irem directos ao assunto:

3. O Governo diz: Quem ganhar o CP para UMTS coloca X milhões de Euros repartidos equitativamente nas contas bancárias a designar.

FACTO:

As operadoras não fizeram qualquer contrato de aquisição de computadores, para os programas e.Escolas e similares, desde meados de 2007, porque a sua obrigação extinguiu-se.

CONCLUSÃO:

O Governo, através do FSI que depende do MOPTC, tem escolhido SEM QUALQUER CONCURSO PÚBLICO desde 2007 as compras dos computadores para os programas e.Escola, e.Escolinha e similares.


Enviado para o ABRUPTO a 29/09/2008, e publicado a 30/09/2008:

A mentira Magalhães

Aparentemente o Sr. João Silva refere-se ao conteúdo da minha mensagem do passado dia 23. Fica a resposta. (...) Infelizmente parece que terei de traduzir as questões que levantei.

Realmente existe propaganda. Pura e simples. Não só pelo modo como a notícia foi apresentada na RTP, mas também pela própria medida. E é a DESMONTAGEM da própria medida, que foi adiantada através de questões, que o Sr. João Silva não entendeu.

Segue a tradução:

As questões que coloquei na mensagem de dia 23 servem unicamente para mostrar que a medida "inovadora" do Governo não só não é inovadora como tão pouco terá sido pensada.

NÃO É INOVADORA:

Repare-se que este tipo de ideia surgiu para os países sub-desenvolvidos, pelo que, é a sua aplicação em Portugal que se torna a PROVA do nosso real estado de desenvolvimento e de mentalidade. Não é, pois, o nível da crítica a fazer prova.
Esta ideia não é, portanto, inovadora. É descabida.

NÃO FOI PENSADA:

Se fosse uma medida realmente pensada, e não pura manobra de propaganda, teria sido equacionada a alternativa muito mais RACIONAL, e esta sim «AVANÇADA», de fazer o INVESTIMENTO nas próprias ESCOLAS!!!

Ou seja, qual é a vantagem de ter miúdos de 6 a 10 anos com portáteis em casa, por oposição a ter esses mesmos computadores nas escolas? Ou será que em 2009/10 vão distribuir mais Magalhães aos novos alunos do 1º ano? E em 2010/11? 2011/12?...

Não teria feito mais sentido investir em MENOS, mas MELHORES sistemas de informação nas ESCOLAS?

Não seria até um INCENTIVO para que as crianças GOSTEM de ir à ESCOLA, em lugar de um incentivo a que fiquem em casa a jogar no computador?

Não faria da ESCOLA um lugar mais ATRAENTE, até para os TEMPOS LIVRES?

Não evitaria o USO INDEVIDO dos computadores pelos "manos e papás dos meninos"? Não evitaria roubos? Riscos de contactos com pedófilos? Nem tão pouco se colocaria a questão de ser disco rígido ou SolidState.
Ou seja, de os computadores ainda existirem / funcionarem quando chegar o final do ano lectivo.

Resumindo:
Ter crianças de 6 anos com Magalhães, e escolas sem equipamentos de informática, é vencer o atraso? Para mim, é prova de mentalidade do país pequeno, retrógrado, eleitoralista e CORRUPTO que temos.


O Sr. João Silva sabe como funciona um SOFTWARE DE CONTROLO PARENTAL? Tenho dúvidas que saiba. Porque se soubesse estaria CIENTE da NECESSIDADE de acompanhamento. O software de controlo parental é uma mera ferramenta, e para ser eficaz necessita de parametrização e monitorização constante.
Tem de haver alguém que decida o que pode ser acedido e o que não pode.


Quantos pais destes alunos têm conhecimentos suficientes para garantir esta correcta parametrização? 1%? Menos?

O Sr. Carlos Pinto da INTEL que foi ao noticiário da RTP, disse qualquer coisa como «(...) o Ministério da Educação também sabe a password (...)». Ou seja, parece que existe uma ÚNICA (!!!) password, leia-se IDÊNTICA, que permite o acesso privilegiado ao Magalhães. Fica outra questão:
Quanto tempo demorará um dos miúdos a saber essa password? E quanto tempo demorará o miúdo a contar aos outros todos?

TELEJORNAL - RTP - 23/9/2008 (aos 7 minutos)

Já agora:
JORNAL DA TARDE - RTP - 23/9/2008 (aos 12 minutos)

O Magalhães com acesso a conteúdos para adultos:
JORNAL DA NOITE - SIC - 23/9/2008 (aos 14 minutos da 2ª parte)

Eu tive o meu primeiro computador em 1982, quando tinha 14 anos. Durante mais de uma década não tive acesso à Internet. Ainda assim...
O meu rendimento escolar diminuiu. Cheguei a ficar TODAS as férias de Verão (3 meses?) sem sair de casa, sempre agarrado aos computadores.
Nem foi por falta de informação, que hoje é acessível pela Internet, que deixei de conseguir fazer cópias dos jogos, que deixei de crackar software que adultos não conseguiram, nem que me impediu de usar exploits no sistema UNIX da universidade. Tudo isto antes de haver Internet.

Não menosprezem as capacidades dos miúdos. Quanto mais novo maior a capacidade de aprendizagem. Como se não bastasse, as crianças têm duas vantagens adicionais: CURIOSIDADE e TEMPO!

É realmente da MAIOR IMPORTÂNCIA dar às crianças o ACESSO a este tipo de ferramentas. Mas dar o acesso não é o mesmo que lhes dar a POSSE das mesmas ferramentas.

Eu até posso deixar uma criança brincar com uma chave-de-fendas. Mas com supervisão. Oferecer uma chave-de-fendas a uma criança, e deixá-la sem sozinha, é meio caminho para um acidente com uma tomada eléctrica.

Dar um computador a uma criança é o mesmo que lhe dar um isqueiro.

A propósito de computadores e fogo... as baterias explosivas:

«Intel's Dream: One Exploding Classmate PC Per Child»


Para concluir, o atraso que temos em Portugal não é por falta de medidas inovadoras, é por falta de PLANEAMENTO, dessas ideias. Levar computadores até às crianças é boa ideia. Não se PENSOU foi em COMO fazer do MELHOR modo (para as crianças, entenda-se). Um exemplo que salta à vista?
CARJACKING! Existe porque adoptaram-se soluções tecnológicas para impedir que o carro funcione sem chave. Não se pensou nas consequências...

Quem diz Magalhães, diz Aeroporto da Ota, diz chips nas matrículas, diz... todas as outras coisas "muito bem pensadas"...


Lamento que a tradução tenha sido necessária. Espero não ter de traduzir as novas questões levantadas. Sim, porque eu acredito em discutir os assuntos com o levantamento de questões. Não me arrogo a dar respostas.
Essas serão dadas por cada um, perante os factos e argumentos que forem avançados no debate dessas mesmas questões.


Enviado para o ABRUPTO, e publicado a 25/09/2008:


Sócrates melhor que Valentim

Estive a pensar mais um pouco sobre o assunto, e...

Não haja dúvida!

José Sócrates bateu o Major Valentim Loureiro aos pontos!

Enquanto o Major se limitou a oferecer electrodomésticos aos eleitores de Gondomar, Sócrates ofereceu portáteis com processadores ultrapassados aos filhos dos eleitores Portugueses. E como os filhos dos Portugueses no estrangeiro não vão receber PC's, acaba-se com o voto por correspondência.

*** Brilhante! ***

Mas não foi apenas no alcance que Sócrates bateu Valentim. Enquanto o Major ofereceu electrodomésticos comprados com o seu (?) dinheiro, Sócrates não gastou um tusto. É tudo pago com o dinheiro dos contribuintes.

*** Golpe de mestre! ***

Parabéns, Sr. Sousa! Quando perder as eleições para 1º Ministro já tem lugar garantido na Câmara de Gondomar. E não se esqueça de dar uma ajuda ao Boavista, que tanto precisa...

E parabéns também pela escolha do nome!

Magalhães, o Navegador ao serviço da Coroa Espanhola,
e
Merdalhães, o portátil ao serviço dos Americanos da INTEL e MICROSOFT.

*** Genial! ***

22/09/2008

Propaganda eleitoral Magalhães

Realmente, a peça na RTP parece mais uma peça de propaganda que uma peça de jornalismo. Penso que a RTP é o único "media" que insiste em sublinhar o Merdalhães como o primeiro portátil inteiramente Português. Mas convenhamos que o nome foi bem escolhido, o Navegador ao serviço da Coroa Espanhola, e o portátil ao serviço dos Americanos da INTEL e MICROSOFT.

Mas há algo que, a ser um facto, é MUITO MAIS GRAVE:

Houve algum concurso público? Internacional?

Porquê o CLASSMATE da INTEL?

Porque não um ACER ASPIRE ONE?

Ou um ASUS EEE?

Ou, ainda melhor, porque não um OLPC XO-1 da associação sem fins lucrativos OLPC?

Porquê a JP Sá Couto e a Prológica? Eram a solução mais barata? De entre quais?

E dia 24/9/2008? Quantas crianças é que ainda vão ter o portátil que lhe deram hoje? Quantos pais e irmãos não se vão "abotoar" ao portátil?

E dia 25/9/2008? Das que conseguiram ficar com o portátil, quantos é que ainda o terão a funcionar?
Aparentemente o Merdalhães vem com disco de 30GB, ao contrário de Solid-State RAM. Ou seja, a tal resistência ao "choque" parece-me que ficou na gaveta. Crianças com um portátil com disco rígido é um acidente à espera de acontecer. Basta andarem com o PC ligado de um lado para o outro. Duvido que o disco resista muito tempo.

A propósito... E garantia? Há garantia? 2 anos? 10 minutos?

E assaltos? Não serão as crianças alvos de assaltos para lhes roubarem os portáteis? Já são vítimas de roubos de telemóveis...

E acesso seguro à Internet? É garantido? Não estarão na calha para serem vítimas de pedofilia? Sim, eu sei que o programa e-Escolinha não inclui ligação à NET, mas têm WIFI, e o que não falta para aí são redes WIFI desprotegidas. E não se pense que os miúdos não se sabem "orientar" só porque os "cotas" não sabem...

A respeito deste portátil e das notícias relacionadas, descobri um artigo interessante na SINTRAVOX:


Enviado para o ABRUPTO, e publicado a 23/09/2008:

Citado em: